sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

Festividades na Idade Média: Natal, "Ano Novo" e Carnaval

Para as classes populares na Idade Média (período da História entre 476 a 1453 d.C.) uma pausa no trabalho era uma coisa impensável. Férias, como entendemos hoje, não existia ainda, mas haviam algumas festas que não poderiam deixar de ser celebradas dignamente se não fosse como uma espécie de folga. 
Depois do nosso feriado de Carnaval, vamos comentar mais ou menos como era essa festividade neste período histórico, na postagem de hoje.


Como se sabe, as celebrações na Europa sobretudo após a Antiguidade, eram tomadas por práticas pagãs e boa parte dos ritos sagrados cristãos eram muito diferentes de hoje. Alguns eram adaptados com aspectos propositais de ordem pagã, claro, para garantir que fossem perpetrados. Outros, foram substituídos por festividades específicas, modificados ao longo do tempo. 

Por exemplo, o Natal. Este não soava muito diferente do nosso. No período ainda inconsistente em termos de data - do que seria o 25 de dezembro (em outra postagem falaremos de como se marcava o tempo na Idade Média) - no campo, se matava um porco e jogava-se dados. Essa última questão era uma distração fortemente condenada por pregadores.
Mas não pensem que era só isso: por tradição também se assistia à todas as missas da noite. A refeição também fazia um papel importante na celebração - por isso, ainda há, talvez como herança, a prática de nos esbaldarmos com a ceia. 
De acordo com Jean Verdon (medievalista francês), "decora-se a casa e vestem-se roupas novas". Parece o nosso famoso "se arrumar para ficar na sala" - que também acontece, em alguns casos, no Réveillon. 

E por falar no primeiro dia de janeiro (que como veremos, em outra postagem, não coincidia para todos com o primeiro dia do ano) era festejado com ritos bem pagãos: banquetes, é claro - mesas fartas até tarde e muita bebida. Normal, não é? De acréscimo, já quase na área do Carnaval, o pessoal usava  fantasias - máscaras de bezerros, de cervos - que eram comuns nessa ocasião. Além disso, havia também a troca de presentes!! Seria o "amigo oculto" da Idade Média??? 

Comentando sobre as fantasias, não é tão difícil pensar que as festividades tinham alguma origem pagã, sobretudo, céltica, nestas celebrações cristãs, como duas premissas que se fundiram. Por trás da ideia da máscara de cervo por exemplo, parece ser uma referência ao deus Cernuno (representado na imagem abaixo), o espírito em forma de divindade dos animais machos com chifres e também um deus céltico associado à natureza, à reprodução e à fertilidade. 

Ainda no fim da Idade Média era comum que no dia 1º de janeiro as pessoas se fantasiassem e "enlouquecessem" festejando. Por ocasião da Epifania - ou Dia de Reis - preparava-se uma suntuosa torta na qual era inserida uma fava: quem a encontrava era o rei da festa. 
Vamos ponderar aqui que essa torta evoluiu para o "Pavê ou pacumê" dos tiozões medievais, rsrsrs...

Brincadeiras à parte, entre as festas mais populares e difundidas desses período estava, sem dúvida, o Carnaval. O termo em latim parece derivar de carmen levare, ou seja, "abolir a carne". Na origem, não havia nenhuma relação especificamente com fantasias-se, festejar até não aguentar mais, que estamos costumados. Era simplesmente se deliciar com pratadas e pratadas de carne, pela última vez, antes da quaresma. 
Mas um antecessor do Carnaval é mais antigo que a era cristã. O indício foi encontrado na Saturnalia dos romanos - festas dedicadas ao deus Saturno - com brincadeiras, libações e também, troca de presentes. Nessa prática (que havia também sacrifícios) na maioria das vezes, acabava em excessos (olha só!) perigosos, a considerar que tudo era permitido, inclusive (preparem-se!) a troca de papéis, com as pessoas vestindo roupas alheias, caracterizando popularmente como as "festas dos loucos". 

Obviamente, com o advento do cristianismo, o Carnaval continuou a ser celebrado, mas perdeu o seu significado ritualístico, e acabando por ser muito criticado pelo clero que via na folia do povo um grande festejo recheado de problemas: propensão à lascívia e imoralidade, e subversão constituída. 
Errados não estavam...

Assim, o Carnaval - com a carga de irreverência que continha - se contrapunha à formas religiosas oficiais. Com a entrega ao riso, a loucura, a gozação e a abundância, isso era visto pelas autoridades eclesiásticas como algo muito semelhante aos tempos pagãos e portanto, indissociável aos costumes cristãos. Mas o porque ele era tão amado pelo povo, (e de alguma forma, ainda é, por muita gente)? 
Pois é simples: no festejo, até os mais pobres poderiam emancipar-se, esquecerem, por um momento a própria situação, e se transformarem "em outros" através das máscaras/fantasias.
Não é essa a premissa dos defensores do nosso Carnaval?

Com um tempo, até a Igreja começou a aceitar essa festividade, percebendo que era uma válvula de escape e vitalidade popular, capaz de neutralizar as tensões sociais e energias subversivas. Mas, claro, era necessário por um freio nesse "libera geral": a quaresma chegaria logo depois, impondo (como o nome diz) quarenta dias de oração, penitência, e mortificação em preparação para a Páscoa. O jejum - abstinência de carne e vinho, e na época, a redução das refeições para uma só por dia - foi teorizada nos primeiros séculos do cristianismo e, salvo algumas sutis mudanças, permanece como prática rigorosamente aceita entre os católicos, nos nossos tempos.  

(Fonte base para o texto: "A Vida Secreta da Idade Média" de Elena Percivaldi)

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Logo teremos mais curiosidades! Até a próxima

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