segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

O Tempo na Idade Média: calendário

Há quem faça pouco das festas de virada de ano. A celebração do Réveillon em si não deixa de ser uma coisa realmente engraçada: comemora-se a volta completa do Sol em torno da Terra.
Os "chatos" argumentam sobre isso, pois não gostam de festejar. Ou até gostam, mas são implicantes e preferem fiscalizar a vida alheia, se incomodando com a alegria dos outros. 
De todo modo, pode-se dizer algo em favor deles: Esse ciclo (do Sol em torno da Terra) é iminente; irá acontecer, quer estejamos dormindo na nossa cama no dia 31 de dezembro para 01 de janeiro, quer estejamos acordados dançando loucamente, músicas de qualidade duvidosa, com amigos e familiares, todos (bem) "lubrificados". 

Deveríamos ter abandonado o costume quase ritualístico dessa passagem (como vimos, não era bem assim noutros períodos históricos, que sequer tinham uma definição de calendário), uma vez que a civilização já deixou de praticar muitos ritos tribais, por exemplo. Se fôssemos ainda sociedades primitivas e não tivéssemos a ciência avançada, justificava-se. Temos um calendário padronizado seguido por boa parte do mundo e então, de uma forma ou de outra, poderia ter sido uma prática que, com o tempo, acabasse sendo naturalizada.
Mas não é bem assim. O pessoal se apegou à essas festas desse tipo muito mais como um jeito de extravasarem do que necessariamente se colocarem como um momento de reflexão sobre o seu significado. Se é um ciclo de uma volta completada do Sol em torno da Terra, porque não usar a data da passagem para, efetivamente, fazer uma autoavaliação de conduta e renovar as energias para um ano novo, sendo uma pessoa melhor? Sim, as pessoas fazem as promessas, mas colocar em prática são outros quinhentos...

Na postagem anterior, contamos algumas curiosidades sobre festividades como Natal, Fim de Ano e Carnaval, e ressaltamos que o tempo na Idade Média, era diverso. 
Vamos falar sobre isso, hoje? Então, nos acompanhem!

Neste período, os anos transcorriam de forma bem entendiante. Imaginem: sem TV, sem Internet... Ah, que tédio!... Mas não por isso, o tempo era bem monótono na Idade Média, principalmente para a gente comum. Ao contrário das classes cultas (que eram minoria) e dos eclesiásticos, o povo do campo, por sua vez, não tinham noção clara de como medirem o tempo. E mais que isso: era bastante difícil computá-lo. 

Se, na era romana, o ponto de partida para a contagem dos anos era a fundação da Urbe - fixada pelo erudito Varrão no dia 21 de abril de 753 a.C. - a partir do século VI popularizou-se o sistema elaborado pelo monge Dionísio, o Exíguo.

Dionísio (foto ao lado - c. 470-544) não era só monge, era jurista de direito canônico, escritor, tradutor e, no caso, matemático. Seus cálculos formalizaram um sistema que estabeleceu o nascimento de Cristo no dia 25 de dezembro do ano 753 ab Urbe condita (da fundação de Roma).
Mesmo que esse cálculo do início da chamada "nova era cristã" tenha sido reconhecido depois como errado e atrasado em quatro ou cinco anos em relação ao efetivo nascimento de Jesus, esse sistema é o que se impôs no Ocidente por volta do século X e continua sendo seguido até hoje. 

Vale lembrar que havia outras culturas que seguiam um calendários próprio, diferente do cristão. O calendário chinês vem a nossa mente, instantaneamente, e eles ainda seguem o calendário de sua própria tradição. No último dia 12 de fevereiro, os chineses comemoraram o início do ano 2021 sob um novo regente: o Boi de Metal. Ele representa ordem, adaptação, e disciplina. (Tudo que precisamos depois do atribulado 2020, não é?) 
Mas os árabes, por exemplo, contavam os anos a partir da fuga de Maomé da Meca, ocorrida no 16 de junho de 622, segundo uma tradição que se implementou a partir do ano 640 d.C. 

Mas, afinal de contas, como era o calendário usado no Ocidente na era Medieval? 

Combinando o calendário introduzido por Júlio César no século I a.C. - que dividia o ano em 12 meses - com o calendário hebraico, na qual os cristão adotaram a divisão em semanas e a importância da Páscoa, ou Pesach, que em hebraico significa "passagem", temos finalmente o contagem de tempo que seguimos desde então.
Dos hebreus também adotou-se um dia da semana dedicado ao repouso: para eles, era o shabbat - sábado. Mas o Imperador Constantino preferiu o domingo - dies domenica, o conhecido "Dia do Senhor". 

Já o primeiro dia do ano então, variava conforme o lugar. Por exemplo, o esquema de circuncisão de Jesus - que fazia o ano iniciar-se no 1º de janeiro - era usado na Roma Imperial. Na República de Veneza, em vigor até 1797, o início do ano era no dia 01 de março. O calendário seguido pelas regiões de Pisa e Florença previam o começo do ano no dia 25 de março. O mais difundido no noroeste da Península Itálica (como a Lombardia) coincidia com o Natal: 25 de dezembro. 
O bizantino era ainda "mais diferente": o ano se inciava no dia 01 de setembro e foi usado o mesmo esquema no Império do Oriente e na Rússia. 

Todos os calendários, no entanto, giravam em torno da figura de Jesus Cristo e da comemoração dos principais eventos de sua vida terrena. 
Nesse caso, Pentecostes - a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos e o início de sua missão - e Corpus Christi, cuja celebração foi criada a partir do ano 1246, eram fundamentais. 
O calendário cristão também lembrava santos e mortos, além de incluir outras festividades de matriz, digamos, profanas - como recordado no post anterior - que acontecia com fusão ou resquícios pagãos, como aqueles ritos baseados em colheitas. 

No próximo post, contaremos como era a divisão das horas do dia. Até lá!
 

(Fonte base para o texto: "A Vida Secreta da Idade Média" de Elena Percivaldi)

Gostaram da postagem de hoje?
Comentem com sugestões, criticas e apoio! 
Logo teremos mais curiosidades! Até a próxima

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