Sabemos agora como foi a montagem do calendário que seguimos até hoje: 12 meses, cada um com 4 semanas e um dia de "repouso" - domingo, Dia do Senhor. (Não leu? Clique aqui).
Mas e as malditas horas do dia? Como fracionavam esse tempo, se é que faziam isso?
Como não havia luz elétrica, as atividades - e consequentemente, o dia - terminavam assim que escurecia. As horas, então, eram calculadas a partir do pôr do sol, afinal, não haviam relógios!
Os primeiros, eram recheados de erros, e começaram a se popularizarem apenas a partir de 1300.
Na Idade Média, estava em vigor a prática romana de dividir e o dia em horas diurnas e noturnas - horae e vigiliae - sempre em grupos de três, conforme a lista abaixo.
Período da noite, quando o sol se põe:
► Vigilia prima - das 18h às 21h, aproximadamente;
► Secunda - das 21h a 0h;
► Tertia - 0h a 3h;
► Quarta - 3h a 6h.
Período do dia, ao amanhecer:
► Hora tertia - das 6h a 9h;
► Sexta - das 9h a 12h;
► Nona - 12h a 15h;
► Vespera - das 15 até o pôr do sol, por volta das 18h.
Como já dito, sem relógios, os sinos das Igrejas eram o alarme desde o século VII: as badaladas nos tempos acima citados regulavam, no dia a dia medieval, o trabalho e a vida nos campos. Obviamente, as horas do dia começavam mais cedo (no verão) e mais tarde (no inverno). O ponto de referência era, então o campanário dos mosteiros que batia as horas seguindo os ritmos dos monges e de suas orações.
A mattutinum - a primeira oração - acontecia por volta das três da madrugada!!!!
Com o sol aparecendo era o momento das laudes, a segunda etapa de orações, seguida pela reza da hora tertia, por volta das 9h da manhã. Assim, se davam as orações da sexta ao 12h, da nona às 15h e da vespera às 18h. Por fim, compieta acontecia assim que anoitecesse, quando se recitava a Ave-Maria, muitas vezes acompanhada de uma badalada de sinos (sobretudo a partir do ano 1318).
Em algumas regiões ainda mantém-se o costume: às 18 horas, as igrejas tocam sinos enquanto, por auto-falantes, padres rezam ou gravações da Ave-Maria são transmitidas para a população.
Os minutos eram computados por instrumentos pouco precisos: relógios de sol, ampulhetas e até velas. Mas isso era irrelevante à época; a modernidade e o germe do capitalismo é que fizeram com que o tempo precisasse ser computado de forma exata - afinal, "tempo é dinheiro".
Na Alta Idade Média, não importava tanto, ainda que se trabalhasse muito e precisasse produzir na lavoura o sustento. Isso pois, a dimensão do tempo nesse período era diverso: ele era considerado sagrado e pertencia somente a Deus.
Assim, com o advento do desenvolvimento econômico entre os séculos XI e XII e a ascensão social das chamadas classes mercantis, o lento "tempo da Igreja" se tornou o completo oposto do frenético "tempo mercante". Nesse último, era muito necessário a racionalização desse tempo: saber exatamente a duração das viagens e sobre a rapidez dos negócios, tanto comerciais, quanto empréstimos faziam as coisas acontecerem.
Com isso, a Igreja precisou se adaptar aos novos tempos (literalmente): se antes condenava a nova filosofia - já que o tempo pertencia a Deus e era absurdo considerar objeto de lucro - passou a legitimá-la e mais que isso, legitimou também a usura - juros, arrendamentos.
Reconhecendo então que os mercadores exerciam um trabalho indispensável para a Cristandade, isto é, a disponibilização de recursos, os mercadores também, pagavam seu pecados - literalmente - com côngruas (pensões pagas aos párocos para seu sustento), esmolas e heranças à Igreja Católica. Por causa dos mercadores é que se inventou a ideia de Purgatório, inclusive.
Nada como dar tempo ao tempo, não é mesmo?
(Fonte base para o texto: "A Vida Secreta da Idade Média" de Elena Percivaldi)
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