sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

As origens das palavras e expressões populares – Parte 1

Nosso idioma é riquíssimo e bem diversificado. Muitas expressões e palavras que usamos no dia-a-dia, sabemos os significados, mas - talvez - não saibamos suas origens.

Por isso, decidimos selecionar as 30 mais divertidas e curiosas palavras e expressões (e as possíveis origens), separadas em duas partes. 

Confiram a parte 1:

A dar com pau: “Pau” é um substantivo utilizado em algumas expressões brasileiras, e tem sua origem nos navios negreiros. Muitos negros capturados preferiam morrer a serem escravizados e, durante a travessia da África para o Brasil, faziam greve de fome. Para resolver a situação, foi criado então o “pau de comer”, uma espécie de colher que era enfiada na boca dessas pessoas aprisionadas por onde se jogava a comida (normalmente angu e sapa) até alimenta-los, enfim. A população incorporou a expressão que significa algo relacionado à muita quantidade e forçosamente disponível.

Bode expiatório: Essa é nada mais que o animal mais oferecido em sacrifício, sobretudo em rituais (religiosos) de algumas culturas antigas. Logo, ter "um bode expiatório" é ter alguém que se sacrifica para dar informações privilegiadas ou para conseguir algo em seu nome ou de outros.

Paredes têm ouvidos: paredes são inanimadas, mas a expressão significa alerta, uma metáfora que quer dizer que alguém pode estar ouvindo a conversa privada. Em alemão, francês e chinês existem ditados bem parecidos com este e com o mesmo sentido, como: “As paredes têm ratos e ratos têm ouvidos”. Há quem diga também que essa foi uma expressão usada para se referir à rainha Catarina de Médici, esposa do rei da França, Henrique II, que era perseguidora dos huguenotes e chegou a fazer furos nas paredes do palácio para ouvir o que as pessoas - das quais suspeitava - estavam dizendo. Interessante, não?

Meia tigela: significa algo sem qualidade e/ou insignificante, medíocre, desimportante. Ela vem dos tempos de escravidão: quando o escravo não conseguia preencher o “bucho” da mina com ouro, ele só recebia metade de uma tigela de comida. Muitas vezes, o escravo - que com frequência não conseguia alcançar essa “meta” - recebia a expressão como apelido. Tais hábitos não eram, porém, restritos às minas, e a punição retirando-se parte da comida, era comum na maioria das obrigações dos escravos. Hoje, a expressão é comumente usada para qualquer pessoa que ofereça um serviço incompleto ou insatisfatório.

Mas a expressão também tem por base a época da monarquia portuguesa. Durante esse período, os funcionários da realeza eram alimentados de forma que a quantidade de comida recebida fosse proporcional à função desempenhada.

Essas quantidades estavam predefinidas em um livro oficial chamado de “Livro da Cozinha del Rei”.

Assim, enquanto os funcionários com cargos de hierarquia mais alta comiam uma tigela inteira, os de hierarquia mais baixa comiam apenas meia tigela.

Escapar: Além da ideia de abandonar as obrigações por um momento, também usamos essa palavra para nos livrar de alguma situação, sem ser notado. Contudo, esse verbo e seus substantivos relacionados (não podemos nos esquecer da “escapadela”!) têm uma origem muito mais divertida: A palavra que nos indica uma fuga repentina também é bastante usada em histórias de heróis que “escapam” das garras de seus inimigos e aqui estamos mais perto do começo de tudo.

A ideia que deu origem ao termo está associada ao fato de se deixar a capa para trás. Para ajudar a construir esse sentido, temos o prefixo latino ex, que significa “fora de” e ainda é usado em muitas outras palavras. O verbo excappare surgiu no latim vulgar no século 12 com o sentido de deixar alguém segurando apenas a sua capa. Já o sentido metafórico da palavra chegou até nós somente a partir do século 19.

Lavar a égua: a expressão quer dizer aproveitar, se dar bem, se redimir em algo. Vem da exploração do ouro, quando os escravos mais corajosos tentavam esconder algumas pepitas debaixo da crina do animal, ou esfregavam ouro em pó em sua pele. Depois, pediam para lavar o animal e, com isso, recuperar o ouro escondido para, quem sabe, ajuntar uma quantia e comprar sua própria liberdade. Os que eram descobertos, porém, poderiam ser açoitados até a morte.

Para quem já foi a Ouro Preto-MG pode ter ouvido de algum guia nas igrejas ou museus sacros, que alguns negros escravos costumavam acumular o pó do ouro também, nos cabelos. Ao irem à missa, eles passavam água benta das pias das Igrejas nos cabelos e deixavam lá para que os padres pudessem usar como uma espécie de dízimo. 

Casa da mãe Joana: Quem é que nunca ouviu alguém reclamando, dizendo que “Aqui não é a casa da mãe Joana, não”? A expressão serve para descrever um local no qual tudo é permitido e não existe qualquer tipo de organização. Ou seja, uma bagunça! Ela surgiu na Europa durante a Idade Média, depois que a Condessa de Provença e rainha de Nápoles, que se chamava — adivinhe! — Joana, decidiu regulamentar a situação dos bordéis de Avignon, na França, cidade onde vivia como refugiada. Ah, tá!

Uma das normas que ela estabeleceu ditava que as portas desses locais deveriam permanecer sempre abertas, permitindo a passagem de quem quisesse entrar. A norma acabou virando uma expressão, que foi parar em Portugal como “Paço da mãe Joana”, onde virou sinônimo de prostíbulo e lugar no qual reina a desordem, entra qualquer um. Aqui no Brasil, a palavra Paço foi traduzida para Casa, e o resto da história você já conhece...

Santo do pau oco:  Hoje em dia a expressão serve para designar pessoas que se fazem passar por boazinhas quando, na realidade, não o são, ou seja, virou sinônimo de falsidade e de hipocrisia. Sim, o mal do século não é modinha...

A expressão vem do Brasil colonial (de novo!) quando os impostos sobre o ouro e sobre as pedras preciosas eram muito altos. Então, para enganar a coroa Portuguesa, os mineradores escondiam parte de suas riquezas em figuras santas que tinha abertura na madeira e o fundo oco.

Dessa forma, eles podiam passar pelas Casas de Fundição sem pagar impostos abusivos, já que ninguém dava importância ao santo que estava sendo carregado. O jeitinho brasileiro, desde o começo da nação...

Custar os olhos da cara: Este ditado definitivamente teve origem na antiguidade, e encontramos várias explicações possíveis sobre como ele foi criado. Uma delas se refere ao costume bárbaro de arrancar os olhos de prisioneiros de guerra, governantes depostos e outros inimigos depois de algum golpe político ou batalha importante. Os vencedores acreditavam que assim os inimigos vencidos teriam poucas chances de se vingar, pois, sem os olhos, se tornariam inofensivos.

Outra possível origem seria a Grécia antiga, já que reza a lenda que por lá era comum que os reis, por ciúme, prendessem seus poetas e lhes arrancassem os olhos, para que eles não pudessem escrever para mais ninguém. Cruel!

Existe ainda mais uma (provável) origem; desta vez daqui perto, na América Central. Dizem que a expressão surgiu em referência ao espanhol Diego de Almagro, que viveu entre os anos 1479 e 1538. Ele foi um dos conquistadores da América e teria perdido um dos olhos quando tentava invadir uma fortaleza Inca.

Ele próprio teria dito que defender os interesses da coroa espanhola teria custado seus "olhos da cara", ao falar sobre o assunto ao imperador Carlos I, da Espanha.

Dor de cotovelo: Você já reparou na posição que as pessoas que estão nos bares enchendo a cara e afogando as mágoas adotam, com os cotovelos apoiados no balcão? Parece que os mais chorosos desenvolveram uma espécie de “dor por esforço repetitivo”, passando a ter os cotovelos constantemente doloridos.

Embora, no passado, essa expressão fosse utilizada para se referir à dor causada por amores perdidos ou não correspondidos, hoje ela é basicamente empregada para designar sentimentos de despeito e de ciúmes com qualquer um.

Maquiavélico: os termos maquiavelismo e maquiavélico têm origem a partir do filósofo Nicolau Maquiavel e o seu principal livro – ‘O Príncipe’. 

A expressão "maquiavelismo" significa astúcia e conduta desleal, enquanto, por "maquiavélico" se entende um indivíduo que não se importa com os meios que escolhe para atingir seus propósitos. No último caso, e na maioria das vezes em que ocorre, está associado à maldade.

Mullet: A palavra “mullet” tem um uso mais específico no Brasil. Além de ter sido incorporada pela moda – onde representa uma peça (camisa, saia ou vestido) com corte mais curto na frente e alongado na parte de trás – o termo é conhecido por batizar um corte de cabelo bastante característico.

Mas o que pouca gente sabe é que o sentido mais comum do termo foi criado pela banda Beastie Boys. No século 15, a palavra era usada para descrever um peixe que tinha a cabeça larga e achatada. Foi somente quando os Beastie Boys lançaram a música “Mullet Head” (de 1994) que o termo foi associado ao corte de cabelo. (Poderia jurar que era de bem antes...)

E o mais divertido é que o estilo foi descrito na própria letra da música: “Number one on the side and don’t touch the back / Number six on the top and don’t cut it wack” (“Número um do lado e não encoste atrás / Número seis em cima e não corte estranho). Quem diria que os Beastie Boys seriam os responsáveis por batizar um corte de cabelo tão "polêmico"?

Do arco-da-velha: Atualmente utilizada para indicar que algo é muito velho ou muito antigo, a expressão “do arco-da-velha” originalmente indicava algo surpreendente; fantástico. A origem da expressão é bíblica e explica que, após um grande dilúvio, Deus sugeriu a Noé que fosse feita uma aliança entre os homens e ele. Essa aliança foi representada por um arco-íris que surgiu no céu. Daí o sentido de 'fantástico', e o arco-íris passou a representar o arco da velha aliança - entre Deus e os homens.

A expressão possui uma variação, "arca-da-velha", que consiste em um tipo de baú onde senhoras idosas guardavam seus pertences, alguns deles relíquias. Daí o outro sentido da expressão: aquele que indica algo velho; antigo.

Fazer ouvidos de mercador: A expressão é incomum, e significa não ouvir, por decisão própria, ignorar o que outra pessoa está dizendo. A versão mais popular da origem da expressão afirma que o mercador - pessoa que se deslocava entre diferentes locais para vender mercadorias - gritava tanto para anunciar e publicitar seus produtos que acabava ficando totalmente indiferente a quem com ele falava, pois não os conseguia ouvir os outros, tamanha gritaria.

Uma segunda versão indica que a palavra correta seria "marcador" e não "mercador". O "marcador" era o senhor que, na época da escravidão, marcava os negros escravos com ferro quente, como se costuma fazer com gado.

Apesar dos gritos de dor proferidos pelos escravos, o marcador não podia se sensibilizar e romper o ato. Ele fingia não estar ouvindo nada e prosseguia, assim, com seu trabalho.

Vá tomar banho!: Atualmente, quando usamos essa expressão, mostramos a alguma pessoa que provavelmente estamos irritados por ela estar nos chateando com algum problema... Literalmente, o "vá tomar banho!" é o jeito meigo de xingar alguém que está enchendo a sua paciência. A origem da expressão está relacionada com o período da monarquia portuguesa no Brasil. Naquela época, o banho não era um hábito comum, pois! Alguns membros da corte passavam dias e dias com as mesmas roupas, que também não eram lavadas constantemente.

Os habitantes indígenas, incomodados com o mau cheiro e já fartos de receberem ordens dos portugueses, costumariam dizer a eles que tomassem banho... Será mesmo?

Tomar banho era sinônimo não só de higiene, mas também de purificação. Acreditava-se que um banho limpava também as desonestidades e impurezas da alma, e melhorava o caráter. Ah, se fosse assim fácil...

Assim, também era comum dizer a alguém para "ir tomar banho" quando considerava-se que essa pessoa era impura. Achamos justo.

* Aguardem a parte 2, na próxima postagem!

Gostaram da postagem de hoje?
Comentem com sugestões, criticas e apoio! 
Logo teremos mais curiosidades! Até a próxima

Nenhum comentário:

Postar um comentário